terça-feira, 6 de julho de 2010

Só o Dunga que age assim?

Esse artigo não é sobre futebol, quer dizer, não exclusivamente. Também não quero aproveitar de uma derrota para esculachar com o Dunga e dizer que estava tudo errado, como alguns querem passar. Na verdade o nosso capitão do tetra é tão somente um líder como tantos outros que temos no nosso país. O que ele fez na verdade podemos classificar como sendo parte de uma triste cultura nacional.
Quero tratar somente daquilo que foi pacificado como sendo o grande equívoco do nosso técnico na África, a escolha dos seus atletas. Na verdade um desastre anunciado. Vejamos o critério adotado pelo agora ex técnico da seleção para escolher seu time. Foram três anos e meio de preparação e ao longo desse período, como ele mesmo disse, todos foram construindo “tijolinho por tijolinho” seu lugar. Sabemos que nem foi bem assim, mas tudo bem. O que valia mesmo era o compromisso, a vontade de estar lá e vestir a camisa da seleção. Mas isso qualquer jogador, ou melhor, qualquer garoto que nasceu neste país futebolista tem. Se espremermos mesmo, chegamos ao verdadeiro critério, que é a relação, o companheirismo e a cumplicidade entre ele e o convocado. Independentemente se tinha outro ou outros em melhor condição naquele momento.
Aí foi o grande “pecado” do Dunga. Posso demonstrar isso com dois exemplos de jogadores brasileiros que atuam no exterior. Um está na copa e pode ser único brasileiro campeão do mundo na África e o outro poderia estar lá ainda. Começando pelo segundo, o jogador Marcos Senna, um dos líderes da Espanha campeã da Europa dois anos atrás. Talvez pensando pela máxima do Dunga, já dava até entrevistas no Brasil como selecionado pela Fúria. Esqueceu de jogar e foi preterido na última hora pelo técnico Espanhol com uma simples explicação: “Este ano ele não está tão bem”. O outro é o bom atacante brasileiro Cacau, da Alemanha. Até ano passado ninguém falava nele, contudo, bastou uma ótima temporada na Bundesliga (Liga Alemã de Futebol), que encerrou semanas antes da copa, e o técnico Joachim Low o levou para África do Sul. Assim como fez com as revelações Ozzil e Muller, meninos ainda. Estes últimos estão enchendo nossos olhos com futebol semelhante ao dos nossos Ganzo e Neymar, que ficaram aqui porque eram ainda meninos.
É aí que eu digo se tratar de uma cultura nossa. O que o Dunga fez não é nada diferente do que nossos líderes políticos sempre fazem. Vale lembrar que quem o escolheu, o Ricardo Teixeira, presidente da CBF, também o fez da mesma maneira. Quais os critérios que existem no nosso país para ocupação de cargos nas administrações? Capacidade? Preparo? Formação técnica? Ou são os mesmos que o Dunga usou e antes dele “Seo” Ricardo?
O bom é que o povinho brasileiro fica P. da vida com o que ocorre na seleção e não está nem aí para o que os políticos fazem. Vale lembrar que a CBF, a princípio, não tem dinheiro público, ao contrário, por exemplo, da prefeitura de seu município. Então queridos, deixemos o Dunga em paz e tratemos de mudar essa cultura ridícula. Começando por saber eleger gente que tem compromisso com sua cidade, seu estado, seu país e não com seu grupinho, como há muitos anos se vê.
Você deve conhecer a historinha da tartaruga em cima do poste: “Você não entende como ela chegou lá. Você não acredita que ela esteja lá. Você sabe que ela não subiu lá sozinha. Você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá. Você sabe que ela não vai fazer absolutamente nada enquanto estiver lá. Você não entende porque a colocaram lá; Então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá, e providenciar para que nunca mais suba lá, pois lá em cima definitivamente não é o seu lugar!”. Enquanto a escolha do técnico da seleção não é nossa, dos governantes é. Mudemos então o que está no nosso alcance e quem sabe consigamos mudar essa mentalidade.