terça-feira, 30 de agosto de 2011

Agosto: “Mês do cachorro louco”

Quando eu era criança, ali na Rua Jaime Gomes, “na escandeia”, se falava que agosto era o mês do “cachorro louco”. Hoje não ouvimos mais isso, nem vemos mães colocando os filhos pra dentro por esse medo. Na verdade, as crianças já não podem mais ficar nas ruas, mas os motivos são outros. Os cachorros loucos, não sei se acabaram devido aos programas de vacinação, ou se passaram a ter uma importância menor em relação ao que os “homens” podem fazer.
Assistir um jornal de TV no final do dia passou a ser um tormento para o cidadão de bem. A quantidade de atrocidades que vemos dia a dia no país e no mundo é algo assustador. A capacidade que o ser humano tem de fazer maldades, seja com crianças, jovens, idosos, e até contra indefesos animais é algo de estarrecer.
Hora é uma jovem que coloca veneno na merenda de uma creche inteira. Julgar a intenção disso é um exercício meio maluco, é adentrar num outro mundo. Temos ainda a recorrente história dos bebês achados nos lixos das cidades desse país. Depois é um maluco que entra armado na escola que estudou a vida inteira e atira em todos que vê pela frente. No Rio o saldo foi de doze adolescentes mortos e mais alguns outros feridos, em Columbine - EUA há um tempo atrás não foi diferente, isso a troco de quê? Teorias religiosas e coisas e tal, pra no fim um diagnóstico pessoal de loucura, quando na verdade essa poderia ser uma análise meio que global. Uma insanidade que transcende a nossa compreensão, mas que parece estar na base de uma sociedade onde o “eu” é o único que importa. Não muito distante disso, a pacífica Noruega (país com o melhor índice de desenvolvimento humano do mundo, e dono de bons indicadores sociais, sem problemas como fome e desemprego, para muitos, o último lugar onde poderia se imaginar um ataque como o ocorrido no dia 22 de julho – noticias.uol.com) se vê diante de um pesadelo, tendo que enfrentar uma verdade que aparentemente não fazia parte, como se estivesse fora dessa realidade mundial.
Temos ainda as dezenas de imagens que nos chegam dos “asilos” denunciados por maus tratos. Na verdade lugares que mais se assemelham a um depósito abandonado em que se esqueceram um resto de material pra trás. Ou de “gente” que busca trabalho como acompanhante de idosos, seres humanos que trabalharam uma vida toda, e nos seus últimos anos recebem destes um tratamento desumano.
Por fim, duas maldades contra animais que vi só nesta semana. Primeiro, o uso de cães vivos presos por enormes anzóis como isca de tubarões. Algo inimaginável, que não irei reproduzir a imagem, pois ninguém merece ver isso. Temos ainda o show de horrores, evento que mais se assemelha a época do império romano, onde milhares de pessoas vão assistir alguém quebrar o pescoço de um filhote de bovino, e aplaudem de pé, como se aquilo fosse algum tipo de esporte ou apresentação artística. Paro por aqui, teria centenas de outros exemplos pra dar, mas chega dessa narrativa “datenesca”.
Que saudade dos cachorros loucos da minha infância.

Imagem: O Grito é uma pintura do norueguês Edvard Munch, de 1893. A obra representa uma figura andrógena num momento de profunda angústia e desespero existencial.