terça-feira, 14 de junho de 2011

Estrago

Impressionante como pode regredir tanto uma coisa como o que está acontecendo em relação à administração das questões que envolvem o transporte e trânsito na cidade de Passos. Antes que algum desavisado pense que estou escrevendo isso em relação ao meu trabalho à frente do Departamento de Transporte e Trânsito de Passos, informo que, lá se vão quatro anos e meio que deixei a direção do mesmo, e já estamos no terceiro diretor. Estou falando é sobre o modo como o Departamento de Transporte e Trânsito (Transpass) vem sendo tratado, praticamente excluído de toda ação que envolva planejamento e projeto, o órgão funciona hoje apenas como cumpridor de ordens de “especialistas” que atuam na administração ou “junto” dela.

Primeiro lhe foi tirado todo e qualquer participação no que diz respeito ao transporte público. Houve um retrocesso de 10 anos no sistema, voltando ao velho e arcaico circular, junto disso, a total exclusão da Transpass dos assuntos relativos a este. Sempre que se levanta alguma coisa em relação ao sistema, é a concessionária “Cisne” quem fala, quando na verdade deveria apenas executar o serviço estabelecido pelo órgão competente, ou será que o que falta é essa tal competência?

Li esta semana na imprensa sobre a homologação do credenciamento de mototaxistas na cidade. Falou-se também a respeito de uma possível “flexibilização” para que outros se legalizem. Ou seja, com adesão na casa dos 20%, pois o estimado é que temos mais de 400 mototaxistas em Passos, 80% continuam trabalhando ilegalmente. Não mudou exatamente nada da época onde o serviço não era legalizado... Só conversa mesmo. O problema nunca esteve nestes 70, 80 ou 100 que irão se adequar a lei. E aí, o que vai ser feito em relação aos demais? Vão deixar de circular? Será feita alguma fiscalização que venha a proibir o exercício da profissão por parte deles? Mas uma vez o que podemos notar é a não participação do departamento que deveria cuidar do assunto. A Transpass nem na foto saiu.

Estou escrevendo a este respeito para mostrar o desserviço que o “Planejamento”, secretaria que deveria fomentar o desenvolvimento técnico no departamento de transporte e trânsito vêm prestando. A ideia do então secretário de planejamento Gilberto Almeida no final da gestão do Nelson Maia, desenvolvida pelo seu sucessor Fábio Kallas, que era dar autonomia e, principalmente, incentivar o desenvolvimento técnico dentro da Transpass, vem sendo gradualmente extinta nesta administração.

Estive numa audiência pública no começo desse mandato em que o secretário de planejamento falou em municipalização do trânsito em Passos e um vereador da base, tão por fora quanto ele, se disse muito tranquilo quanto ao futuro do trânsito na cidade. O “nobre edil” com certeza deve estar com vergonha do que disse vendo o que se transformou o transporte e o trânsito no município. Quanto a “municipalizar o trânsito”, é só dar uma olhada na página do Denatran – Departamento Nacional de Trânsito (http://www.denatran.gov.br), ir em “municipalização do trânsito”, consulta “municípios” e verá que Passos já está lá. O que falta para a total e ampla administração do mesmo se deve a má vontade das administrações na pasta a qual a Transpass está ligada, que teve em José Donizete de Melo, seu último verdadeiro secretário de planejamento.

Não se trata de ficarmos quatro anos parados como está ocorrendo em alguns setores, neste caso é muito pior que isso, estamos falando em retrocesso. O leigo, e isso é fácil de compreender, sequer suspeita do que vem acontecendo, muitas vezes fazendo coro ao discurso oficial plantado na imprensa. O que vemos hoje ser noticiado pela imprensa, sempre com o carimbo da assessoria de comunicação da prefeitura são serviços que até então eram tratados somente como manutenção. Providências feitas automaticamente pelo departamento. “Semáforos recebem melhorias”. Estudo de tempo? Diminuição de estágios? Sincronismo? Não... simplesmente troca de lâmpadas ou o tipo delas. Divulgam até a pintura de faixas de pedestre que já existiam, ou seja, manutenção pura e simples... sem comentários...

Estes que tão prontamente se põe a prestar esse desserviço a nossa cidade não estarão lá para responder quando a coisa se tornar insuportável e isto está muito próximo de acontecer. Transformar um setor tão importante na vida de uma cidade em um órgão acéfalo é algo que necessita ser falado e não me restou alternativa.

Para finalizar, gostaria de deixar aqui meu respeito aos funcionários da Transpass, sobretudo aqueles que, conhecendo a história do departamento e fazendo parte dela, se encontram sucumbidos às ordens de pessoas insensatas e totalmente despreparadas. Sei que assim o fazem pelo respeito à hierarquia e pela necessidade de pai de família que são. O Departamento de Transporte e Trânsito – Transpass certamente fará parte da reconstrução que obrigatoriamente terá que ser feita no serviço público em nossa cidade. Passos terá que ser vista como uma cidade de cerca de 110 mil habitantes, que chega rapidamente aos seus 50 mil veículos, devendo realmente levar a sério a palavra planejamento, que hoje até dá nome a uma secretaria, mas que desconhece o significado da mesma.