terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Pimenta nos olhos dos outros é refresco

Um projeto de lei sobre a escola pública rodou o Brasil através de e-mails. De autoria do Senador Cristovam Buarque, o projeto obriga políticos a matricularem seus filhos em escolas públicas. Este propõe que todo político eleito (vereador, prefeito, deputado, senador...) seja obrigado a colocar os filhos na escola pública. As conseqüências certamente seriam as melhores possíveis, pois quando os políticos se virem obrigados a colocar seus filhos na escola pública, a qualidade do ensino no país irá melhorar, afinal de contas, eles não irão querer que os seus estudem num lugar ruim. Todos sabem das implicações decorrentes do ensino público que temos no Brasil, assim, este projeto poderia realmente mudar essa realidade. Uma idéia realmente muito boa do Senador Cristovam Buarque. (Baseado no e-mail recebido)
Poucos dias depois de receber esse e-mail e tomar conhecimento deste projeto fui convocado como secretário escolar da Escola Municipal Oilda Valéria Silveira Coelho (na lista de presença aparecia E. M. Oilda Valério Silveira, mas o porquê disso eu só fui entender no decorrer da reunião). Nesta foi apresentada de forma já definida onde os formandos do 9º ano (antiga 8ª série) das quatro escolas da zona rural do município de Passos iriam estudar em 2010. Para que entendam o caso, na zona rural não existe ensino médio, pois o número de alunos inviabiliza isso. Assim, criaram uma situação onde esses alunos são obrigados por um “zoneamento”, que se tratando de zona rural é uma piada, a se matricularem na Escola Estadual Neca Quirino (leia-se GOT). Na verdade o que todos sabemos é que o GOT se encontra numa situação lastimável e a Superintendência Regional de Ensino – SRE quer recuperá-lo. A estrutura física entendemos ser relativamente simples, mas com relação as outras partes é fácil perceber que demandará mais tempo para se fazer essa tal recuperação. Contudo, colocar lá meninos e meninas oriundos do campo, que já irão sentir uma grande mudança saindo de uma escola rural, é senão um tanto quanto imprudente. Isto para ser comedido com as palavras. Somente é capaz de pensar uma coisa assim quem não conhece quase nada da realidade desses alunos e essas escolas. Lembrando que a escola municipal que funciona na Fazenda Santa Luzia, do Cabo Verde, chama-se Escola Municipal Oilda Valéria Silveira Coelho.
Voltando ao projeto de lei do Senador Cristovam Buarque, este poderia receber algumas emendas e constar ainda os parentes das pessoas que cuidam das instituições que comandam o ensino. Estas matriculariam seus sobrinhos (no caso de quem ficou “pra tia”), filhos, netos... nas escolas públicas, principalmente quando fossem fazer alguma experiência ou mudança. Depois de verificado a eficiência e os resultados, aí sim. Mas muito provavelmente daria até briga para ir pra lá, como se vê em algumas escolas municipais do centro, onde o “zoneamento” é desmascarado pelo número de vans e kombis deixando as crianças.
Espero que a bancada ruralista da Câmara Municipal de Passos, a maior de todas as bancadas, ao tomar conhecimento desse fato assuma uma posição em relação a isso. Entendemos que o correto é que cada um decida para onde quer ir, afinal de contas nem são tantos assim, além do fato de que alguns já possuem irmãos, primos e amigos estudando na cidade. Certamente esses gostariam de acompanhá-los e não serem cobaias de algum “projeto” de revitalização. Reafirmo que torço para que tenha êxito as mudanças a serem implantadas no GOT, já que no passado tive colegas que estudaram lá e sempre elogiavam a escola, coisa que não se ouve falar hoje. Mas daí achar uma boa idéia obrigar os alunos vindos da zona rural a irem pra lá é uma temeridade, pois se corre o risco de uma evasão desses jovens, pois como disse, muitos já são os desafios que eles enfrentam, sem necessidade de que se crie mais um. Isto pode ser verificado pelo número de alunos da zona rural que param de estudar depois do fundamental. Espero realmente que eles não sejam “defuntos sem vela” e que as autoridades se pronunciem a este respeito.

4 comentários:

Evandro Silva Faria disse...

O projeto é bom, mas em se tratando de Brasil, o que vamos ver (caso implantado o projeto) será uma vasta "padrinhagem" para os filhos destes políticos estudarem na USP, UFMG etc. Sou a favor do projeto, mas apenas para o ensino médio e fundamental, já que o ensino público superior (na grande maioria) está bem implantado. Se a intenção é melhorar, que comece da raiz...
Abraços

Waldemar Ribeiro de Oliveira Junior disse...

Você tem razão Ed... nas federais já estudam os filhos daqueles que tem boas condições financeiras, justamente porque não estudam em escolas públicas no médio e fundamental.
Uma inversão que gera mais desigualdades ainda.

Cris disse...

Amei o artigo! Gostaria que todos aqueles que "fazem parte" da EDUCAÇÃO tivessem acesso a ele. Fico indgnada ao ver como o sistema é manipulador, como tentam nos fazer engolir, projetos, leis, novos médotos de aprendizagem...
Até quando seremos e veremos nossos alunos serem cobaias desse tipo de sistema???

Unknown disse...

Parabéns Júnio ppor mais um belo texto. Eu acho q a chance deste projeto do senador virar realidade é praticamente zero. Seria um sonho ver os filhos de deputados estudando em escolas públicas, até o fim do ensino médio como dito acima. Sugiro o envio deste artigo para vários meios de comunicação, não só da região como do Brasil inteiro. Exemplo: Folha de SP, Estadão, Jornal o Globo, Estado de Minas, etc, etc, etc... Grande abraço!