quinta-feira, 12 de março de 2009

“Aditivando”

Em todo esse tempo que trabalho na prefeitura de Passos uma coisa que sempre se repetiu são os aditivos em obras e serviços. Logo vocês vão entender porque estou falando isso. Na semana que passou podemos assistir a imprensa oficial se deleitar com a notícia vinculada pela própria prefeitura: “Ex-prefeito paga por obras não realizadas”. Indo direto ao ponto, acho que esta notícia vai mexer muito na estrutura de uma secretaria, mais precisamente na sua maneira de conduzir as coisas. Estou falando da Secretaria de Obras, Habitação e Serviços Urbanos, ou, como dizem, o “Obras”.
Nestes 13 anos de Prefeitura, passando pelos mandatos de José Hernani, além Nelson Maia e Ataíde Vilela, não foi raras as vezes que vi projetos e levantamentos sendo corrigidos através de aditivos já durante a execução. Agora, sem tempo “hábil” para que isso fosse feito, vejo todo esse alarde. Muito provavelmente nada disso teria acontecido ou nunca teriam notado se um aditivo fosse feito e o trabalho concluído. Mas confesso a vocês que uma coisa dessas é algo até para ser comemorado. Como as acusações partiram da atual administração municipal isso equivale a dizer que esta pretende não mais irá usar do expediente dos “aditivos” para finalizar obras, algo até então comum a todas as administrações que vi, entre elas, dos próprios. Diga-se de passagem, nunca notei nada de errado quando os mesmos eram solicitados, invariavelmente em decorrência de algum levantamento inconsistente ou alguma mudança feita.
Pelo simples fato de estarem noutro setor e muito provavelmente nem terem consultado aqueles que trabalham com obras, pois até mesmo um deles foi atingido pela denúncia, penso que talvez os acusadores não tivessem a exata noção do estavam fazendo. Desta forma, pode-se ter dado um tiro no pé, pois diante desse fato, da repercussão, de agora em diante os aditivos devem ficar muito mais fiscalizados, o que na verdade, como disse, é muito bom. Um levantamento deste expediente ao longo dos anos irá mostrar que isso é muito mais comum que se pensa. Contudo, se a idéia era apenas desviar o foco das cobranças contra a atual administração, utilizando-se da estratégia de “que a melhor defesa é o ataque”, pois a denúncia surge bem na hora que as primeiras falas mais contundentes da oposição apareceram. Diante do fato, a artilharia montada pela administração para cuidar destes assuntos pode ter errado a mão no seu contra ataque. Esse pode ter sido um duro golpe na Secretaria de Obras, que sempre tem no percentual dos aditivos, o escape para eventuais correções. E como não é segredo para ninguém, a precisão nunca foi o forte dos levantamentos desta. Contudo, reafirmo que nunca enxerguei isso como proposital ou de má fé, em nenhuma das administrações, pois muitos dos profissionais estiveram presentes em mais de uma. Mas às vezes se atira no que vê e acerta no que não vê.
Diante dos questionamentos sobre desvio de função, horário de trabalho dos assessores e suas reais atribuições, além da “Saúde” que não deslancha, muito pelo contrário. O programa do “remédio em casa” que caminhou para trás, simplesmente por ter sua fórmula e nome atrelado ao ex-prefeito. As cobranças sobre a falta de médicos e conseguintes atrasos em consultas, na verdade, problemas comuns em todo Brasil, enfrentado por praticamente todas as administrações, mas que se tentou passar como sendo exclusivo de Passos, todavia parece que não somos nenhuma exceção. Indagações sobre a falta de ação política na saída do escritório da Polícia Federal, a demora em colocar o Novo Pronto Socorro para funcionar, pois o atual herdou o posto de maior vergonha da cidade, colocação deixada pela antiga rodoviária. O SAMU que não chega e era prometido para os primeiros dias de 2009, assim, diante dessas “pequenas coisas”, cobranças normais do processo político feitas pela oposição, que está ali para isso mesmo. Feliz do governo que tem uma boa oposição para lhe nortear, assim, esse pode receber uma consultoria gratuita sobre onde precisa melhorar, porque os aliados somente “babam ovos”.
Mas o que vimos e acho que ainda veremos muito é a situação, quando acuada, correr em disparar contra a administração anterior, mais precisamente na figura de Ataíde. Algo do tipo, se nada de mais grave ficar constatado, valeu o “embrolho” causado. Se nada ficar provado, valeu o tempo ganho. Se a justiça não abraçar a causa, valeu o desgaste político. Afinal de contas, há muito tempo essa política vem sendo usada e dando certo, infelizmente.
Algumas perguntas simples ninguém teve o interesse em fazer neste caso, apesar de muitos saberem como as coisas funcionam. Na verdade, cheguei a ficar em dúvida sobre escrever esse artigo, mas aí me lembrei de um e-mail que recebi de um amigo e falava exatamente sobre isso, do silêncio daqueles que sabem a verdade e se acovardam. Durante quatro anos fui Diretor do Trânsito do atual prefeito e muitas obras e serviços fizemos naquela época em parceria com a Secretaria de Obras, o que fez com que o Departamento de Transporte e Trânsito tivesse ótima avaliação. Nunca neste período deixamos uma nota de serviço ou material do nosso setor seguir sem a nossa assinatura. Desta forma, estávamos deixando claro para o prefeito que estava tudo certo e ele poderia mandar pagar. O mesmo, ao que me consta, nunca precisou ou conferiu obra ou serviço que estava sobre nossa responsabilidade, até porque isso seria quase impossível para um prefeito. Para isso ele conta com a sua assessoria e o funcionalismo que detém fé pública.
Presenciamos mais um caso onde nomes são atirados na lama, por política ou para desviar o foco. Não estou aqui fazendo defesa alguma de quem quer que seja, pois quem acompanha meu blog sabe que já critiquei várias vezes o ex-prefeito. Só que tenho um compromisso com os meus fiéis leitores e apesar de ser apenas um “blogueiro”, isso me basta. Já disse isso, mas não custa nada lembrar, precisamos mudar algumas coisas, a honestidade deve fazer parte da formação moral das pessoas e esse conhecido “modus operandi” deve ser revisto. Quem mudar isso talvez receba igual tratamento quando estiver do outro lado. Um aditivo neste quesito cairia muito bem, não seria nada mau uns 25% a mais de honestidade nas ações, pois essa mania de querer sujar os adversários está virando uma coisa doentia na nossa cidade e quando se aponta o dedo em riste, em acusação, outros três dedos se voltam para você mesmo.
A situação deve responder as cobranças com mais trabalho e a oposição deve cobrar e fiscalizar sim, pois essa é a sua função e deve ser respeitada. A tentativa de inversão de papéis é mesquinha e nossa cidade já perdeu demais com essas coisas. E mais uma derrota está sendo anunciada para 2010. Ainda é cedo para os postulantes a deputados se preocuparem tanto com o ex-prefeito. É claro que se não trabalharem muito mais essa preocupação faz todo sentido. Ou isso, ou bajular e torcer pela interseção do MP. Mas por enquanto, o perigo maior talvez venha mesmo é do lado, pois os políticos da região crescem, e agora financiados por nós mesmos.
O expediente usado neste caso pode até ter funcionado, mas daqui a pouco não vai dar mais, assim, o melhor mesmo é apertar o pé no trabalho, mesmo sabendo que algumas peças não são tão afeitas a isso.

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