quinta-feira, 19 de março de 2009

A volta dos que não foram

Collor, presidente de novo. Notícias de Brasília dão conta que Fernando Collor (PTB-AL), derrotando o PT, se elegeu presidente. Mas se acalmem, é “apenas” da comissão de infraestrutura do senado. Vai estar à frente de nada menos que a comissão responsável por “gerir” boa parte do Programa de Aceleração do Crescimento, o famoso PAC, carro chefe de campanha da “companheira” Dilma. O Ex-presidente derrotou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Mesmo tendo uma bancada modesta, o PTB conseguiu esse feito com o apoio de ninguém menos que o PMDB e o DEM. O placar de 13 a 10 foi construído num acordo anterior, estabelecido quando da eleição para a presidência do senado. O PT ficou pasmo e chegou até perder as estribeiras e a costumeira moderação dos últimos anos, pois, como dono da quarta maior bancada na Casa, reivindicava a presidência da comissão de infraestrutura, depois que o PMDB e os Democratas, além dos Tucanos, já tinham feito suas escolhas noutras comissões. Com a eleição de Collor a “regra da proporcionalidade”, que dava ao PT o direito da vez, foi desrespeitada, abrindo um precedente, o que deixou a senadora derrotada e o líder dos “Trabalhadores”, Aloízio Mercadante, possessos.
Mas até aí tudo normal, o senado da república vem dando nos últimos tempos a nítida sensação de que é mesmo um lugar onde não se deve confiar em quase ninguém, assim, não seriam esses acordos de “cavalheiros” que iriam se perpetuar. Mas o tal acordo anterior citado, aquele que garantiu a eleição de José Sarney (PMDB-AP) para a presidência do Senado, esse sim foi respeitado. O agora líder do PMDB, Renan Calheiros, também Alagoano como Collor e que costurou o tal acordo, ainda disparou: “O PMDB assumiu compromissos com os quais não pode abrir”. A fala do senador tem agora um tom bem mais confiante que de um tempinho atrás. Isso quando esteve com a corda no pescoço, enrolado em tantas denúncias. Estrategicamente andava pelos cantos, escondido. Agora, já está batendo de líder e dando até “canga pé” no PT, que por sinal o ajudou a não ir para a degola. Depois do que disseram Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon, o que mais a gente podia esperar desses.
Nem o fato de Ideli Salvatti ser, segundo palavras de Collor, alguém que “cisca para dentro”, o que de acordo com o mesmo, trata-se de um elogio e quer dizer conciliadora, foi capaz de mudar a história. Nada mudaria o que foi combinado entre Calheiros, Collor, Sarney e cia. Deu medo ao ouvir esses nomes todos juntos? Pelo menos um friozinho na espinha, isso dá, não é mesmo? As falas de Jarbas Vasconcelos não podem ser esquecidas, realmente ele está cheio de razão quando coloca que "a moralização e a inovação do Senado são incompatíveis com a figura do senador", referindo-se a Sarney. Mas na verdade poderia estar falando de qualquer um do trio citado.
O “semifeudalismo”, como a revista britânica Economist chamou a influência de Sarney no Maranhão e deste para o Brasil, gerou no Estado coisas do tipo: Os avanços educacionais no Estado são muito ruins. Sua taxa de mortalidade infantil é 60% mais alta do que a média brasileira. O centro de São Luís apresenta ruas cheias de buracos e um número extraordinário de flanelinhas. Quase 40 assassinatos mês numa cidade de um milhão de habitantes. A revista aponta ainda que a situação no interior do Estado talvez seja pior ainda, logicamente faltam números confiáveis. Até mesmo a Globo, de quem o ex-presidente é “peixe”, não teve como esconder que falta de água na capital do Estado tornou-se uma coisa crônica. A Economist arremata: "O controle das estações de televisão e rádio é particularmente útil no interior do Maranhão, onde a maioria do eleitorado é analfabeto, e onde Sarney encontra a maior parte de seu apoio". Apesar da derrota da filha na última eleição e isso dar a impressão de ser um sinal de novos tempos, vem a “justiça” querendo devolver ao clã seu status. Uma piada, pois se fosse punir alguém por irregularidades na eleição no Maranhão, haveria a necessidade de intervenção.
Sobre a dupla alagoana Calheiros e Collor, “prefiro não comentar”, usando o famoso bordão da personagem Copélia de “Toma lá, dá cá” (em se tratando dos personagens, seria este um outro bom nome para esse artigo). Tenho comigo que se o Deputado Edmar Moreira fosse amigo desses “caras” e tivesse feito seu castelo no Maranhão ou em Alagoas, aquilo seria entendido como um investimento em turismo, um “Resort”. Talvez recebesse até verba do Ministério do Turismo, diga-se de passagem, que também já esteve na mão dos “Sarneys”.

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