domingo, 6 de janeiro de 2008

Anos 80, década perdida?

Na economia foram muitos e mirabolantes planos econômicos, como os Cruzados I e II, o Bresser, mudanças que em nada melhoravam a situação do País e a inflação chegou a mais 1% ao dia. São mais de 300% ao ano, é isso mesmo, você já não se lembrava ou tem menos de trinta anos de idade? Com resultados ridículos e sem indícios de melhora, a economia ia de “mal a pior” nos anos 80.
No futebol tínhamos uma geração de craques, Zico (meu ídolo), Falcão (o Rei de Roma), Sócrates, Cerezo, Júnior, Leandro e tantos outros “gênios da bola”, porém, nenhuma copa “pra gente” comemorar, mas meu Flamengo brilhou. Na política, passamos da “ingenuidade coletiva dos anos 50”, das conturbadas décadas de 60/70 e suas dificuldades oriundas da ditadura militar, para um momento onde a população já se encontrava um pouco mais esclarecida, e sonhava com a reabertura política e a volta à democracia.
As nossas lideranças políticas, estudantis e artísticas (culturais de um modo geral) ganharam as ruas com as "Diretas já" em 1983 e 1984. O país se empolgou com a campanha pela eleição direta para presidente da República, mas infelizmente nosso Congresso não teve coragem para aprovar a Lei “Dante de Oliveira”. Mas a eleição de Tancredo Neves (avô do Aécio, para os mais novos) em janeiro de 1985, foi “quase” de forma direta, pois significava sim a vontade do povo e ali se dava o início à retomada do respeito à vontade popular, o restante dessa história acho que todos sabem.
Sobre a ditadura militar que se findou no meado da década, além de um pseudo crescimento, sempre me indaguei no que ela pode ter contribuído de bom para nosso País. De ruim existem vários livros e filmes para contar, e como gosto sempre de dar algumas dicas, deixo o livro “Feliz Ano Velho” do Marcelo Rubens Paiva para quem não leu, nunca é tarde.
As musas dos anos 80 eram Luiza Brunet, Magda Cottrof (acho que assim mesmo), Luciana Vendramini, Vera Fisher, Monique Evans, entre outras, nada a ver com as aneurexas de hoje em dia, mas isso não é conquista que se vanglorie. Inapelavelmente vocês hão de convir que foi na música a redenção maior dos anos 80, e essa foi em long play – LP. Há quem diga que a qualidade destes, mesmo com o ruído, é superior à de CDs, e quando comparado com a qualidade de MP3 então, nossa... nem se fala. Na verdade, acho que isso é coisa de quem está chegando aos 40 ou passou um pouco disso, mas eu ainda tenho alguns “bolachões” que escuto num Gradiente 3 em 1. Existe muita gente que nem sabe o que é um LP, esses provavelmente nascerão a menos de trinta anos, ou seja, não viveram a década de 80 e nunca se divertiram numa “discoteca”. No mundo, essa década é considerada como o fim da idade industrial e início da idade da informação, sendo chamada por muitos como a década perdida, será?
Ainda na música, tivemos alguns poucos mais incríveis festivais, onde a gente pode ouvir coisas do tipo: "Se fosse resolver, queria te dizer, foi minha agonia; se eu tentasse entender, por mais que eu me esforçasse, eu não conseguiria”..., ou ainda, o primor de Jessé e seu “Porto Solidão”, uma das músicas mais linda que ouvi em toda minha vida. Cantores e compositores já consagrados nas duas décadas anteriores se firmaram ainda mais nos anos 80: Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Jobim, Djavan, Gonzaguinha, Toquinho, Milton Nascimento, Tim Maia, Gal Costa, Beth Carvalho, Alcione, Paulinho da Viola, Ivan Lins, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Jorge Ben, Rita Lee, e muitos outros.
O crescimento do rock nos Estados Unidos e Inglaterra tiveram impacto no Brasil com o nascimento de inúmeros grupos musicais, as chamadas "bandas". Blitz, Barão Vermelho, Paralamas, Titãs, Ultraje, o fenômeno RPM, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Kid Abelha, Ira! e Capital Inicial, são somente algumas das muitas bandas que fizeram sucesso na década de 80. Em janeiro de 1985 aconteceu no Rio de Janeiro o primeiro "Rock in Rio", um mega-evento que reuniu as mais diversas tendências musicais do mundo. O sucesso das bandas dos anos 80 se repetiu em curtas temporadas neste novo século, porém, algumas conseguem driblar o tempo e ainda estão muito vivas por aí. Antes que me esqueça, foi nesta década também que o sertanejo se popularizou. Fortemente influenciado pela música country norte americana “surgiram” as duplas: Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano, entre outras, quase nada a ver com os lendários das décadas anteriores: Tonico e Tinoco, Pedro Bento e Zé da Estrada, Tião Carreiro e Pardinho.
De volta a política, em 1988 foi promulgada uma nova Constituição, a chamada “Constituição Cidadã”. Nesta ficou ratificado definitivamente (que assim Deus queira) o estado de direito no nosso País. Críticos mais esclarecidos indicam haver mais "benefícios que obrigações" na nossa Carta Magna, mas isso é uma outra e longa história que talvez um dia eu ainda possa tentar falar a respeito.

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