domingo, 6 de janeiro de 2008

Do esporte para a vida

Em artigo anterior citei que o ato de decidir é uma arte, complexa e vital, um caminho que leva a vitória ou a derrota, assim sendo, deve se tomar de forma ponderada, mais firme. O PAN-Rio 2007 deixou centenas de momentos marcantes, dezenas de casos de superação, e histórias que serão contadas e recontadas durante muitos anos. Porém, uma em especial chamou atenção antes mesmo do início das competições da modalidade, o polêmico corte do levantador Ricardinho, o então capitão da seleção de vôlei.
Diferente do que ocorrera às vésperas da Copa do Mundo em 2002, onde o também capitão Émerson (futebol), fora cometido de uma contusão, esse traumático corte foi motivado por divergência entre a comissão técnica e o atleta, mas precisamente entre o técnico Bernardinho e o melhor jogador da última liga mundial, eleito dias antes da sua saída do time que iria disputar o Pan-americano.
No Brasil, diante de tudo que acontece no meio político, no mundo jornalístico e etc., esse fato gerou desconfiança. Opiniões precipitadas e sem o devido cuidado e conhecimento quiseram ligar a convocação de Bruno, filho de Bernardinho, considerado o melhor levantador da liga nacional nos dois últimos anos, e que vinha sendo a terceira opção, porém, natural ocupante da vaga deixada, à dispensa do até então intocável Ricardinho.
As palavras do treinador dão dimensão exata de tudo que se passou: “Foi uma semana dura. Alguns me chamaram de autoritário, de mercenário, já que colocaram dinheiro no meio, e me acusaram de nepotismo. Vou esclarecer uma coisa. Eu não seria tão burro de cortar o melhor jogador da atualidade para colocar o meu filho. Se fosse para fazer isso, cortaria o Marcelinho (levantador reserva até então). Avisei que os princípios e os valores são determinantes para mim. Não vale tudo para ganhar”.
Diz-se que a coragem é a capacidade de agir apropriadamente mesmo quando morrendo de medo. Assim, podemos entender o quão deve ter sido duro uma decisão deste nível. Agir de acordo com os princípios ou deixar se levar pela conveniência, pelo que se apresenta mais fácil. Talvez, se a campanha da seleção de vôlei no PAN fosse outra, os insensatos estariam agora “cheios” de razão, bradando aos quatro cantos, todavia, de maneira alguma, independentemente e acima de qualquer resultado, pois no esporte, assim como na vida, não se ganha sempre, a coragem, coerência e firmeza do técnico da seleção de vôlei não poderia ser esquecida.
A biografia que Ricardinho estará lançando ainda este mês, “levantando a vida”, vai ganhar um capítulo final bem diferente do programado, pois este estava reservado para o PAN do Rio, porém, num País onde o sensacionalismo vende mais que a verdade isso pode até virar “lucro”. Contudo, o derradeiro título que faltava para essa geração de campeões, não estará no livro do levantador e nem na carreira, pelo menos até Guadalajara 2011. Já o técnico Bernardinho, continua “transformando suor em ouro”, e como preconiza seu best-seller, sempre relevando a importância da cooperação, da solidariedade e do trabalho em equipe. Mas essa lição só terá o valor que merece se transcender aos seus personagens, pois estes, cada um a sua maneira, com certeza cresceram muito com tudo isso. Vejamos o que nos ensina as escrituras sagradas: “O bom líder conserta o que está quebrado. O grande líder conserta o que (para os outros) está perfeito”.

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