domingo, 6 de janeiro de 2008

Sobre vacas, ratos, leite e queijos

“É fácil viver no mundo conforme a opinião do mundo: é fácil na solidão viver conforme a própria opinião; mas grande homem é o que, no meio da multidão, conserva com plena serenidade a independência da solidão”.
Essas palavras do escritor, filósofo e poeta Ralph Waldo Emerson, in 'Ensaios’, parece que fazem todo sentido na minha busca pessoal acerca de tudo que estamos vendo e ouvindo nos últimos dias em nossa cidade. Quando o mundo fala sobre o que aconteceu na minha cidade, como poderia eu escrever sobre outra coisa. Mas falar sem saber a verdade dos fatos, seria me igualar aos levianos que tanto denuncio aqui mesmo. Quando digo aqui, estou me referindo ao Correio dos Lagos, pois onde vou estar no jornal nem eu mesmo sei. Às vezes me surpreendo vendo meus artigos como editorial, outras vezes embaixo deste como opinião, podendo ainda estar desta mesma forma na página 05. Nunca me preocupei em perguntar o porquê disso, como nunca me foi pedido nada em relação aos mesmos, total independência, pois quem me conhece sabe que de outra forma estou fora. Mas imagino que deva ser algo assim, sai como editorial quando as idéias comungam com quem de direito define a linha deste. Caso contrário é somente opinião mesmo, totalmente minhas e de minha inteira responsabilidade. Assim, relembro aqui parte do meu texto de julho deste ano, onde eu finalizava o artigo Contrapor, que passaria a ser o meu preferido, da seguinte forma: “... em relação aos meus artigos, continue a ler, mas, por favor, construa você mesmo suas verdades, pois essas são as minhas”.
Então, aproveitando desse espaço livre e democrático que me é permitido, sonho ocidental de vida, peço licença para contar uma parábola que lembrei estes dias ao ver tudo isso acontecer na nossa cidade: Certo dia, o rato entra apavorado no curral por causa de uma ratoeira que o fazendeiro comprou e pergunta a vaca: Você pode fazer alguma coisa? Nem vêm, respondeu a “ruminosa”, não tenho nada com isto... Pergunta então para a galinha a mesma coisa, e ela: Desculpe-me Rato, eu entendo que isso seja um grande problema, mas também não tenho nada com isto, é entre você e o dono da fazenda, não vou me indispor com ele. O rato não entendeu nada. Na mesma noite se ouve um barulho de ratoeira desarmando. Pela cabeça da vaca e da galinha se passa a mesma coisa, morreu o rato. Pela manhã, surpreendentemente este entra correndo no curral com as novidades: Ao colocar a ratoeira, o fazendeiro acabou pegando foi uma cobra que passava, sua mulher foi ver se era um rato e foi picada. Agora ela tá morrre, não morre no hospital, disse o roedor. No final do dia chega a notícia do falecimento da dona da fazenda. Como viúvo é quem morre, passado pouco tempo, o fazendeiro já estava a refazer a vida, os compadres já lhe arrumaram uma bela pretendente e este só pensava em se casar, pois a vida na roça só é boa para quem é casado, exclamava sempre o viúvo. No dia do casamento houve uma grande festa, um churrascão onde além da vaca, dois garrotes filhos seus foram “pra brasa”. O nosso fazendeiro logo quis um novo herdeiro e passado alguns meses veio o garotão. A esposa de resguardo pede uma canja de galinha, onde é prontamente atendida, coitada da penosa. O rato assistiu a tudo isso acontecer sem poder fazer muita coisa, pois pequenino que era nada além de avisar lhe era permitido.
O uso da parábola (narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca outra realidade de ordem superior) foi tão somente a forma de tentar trazer você leitor para uma outra reflexão. Enquanto alguns, dentre nós, estiverem pensando que a ratoeira não é problema nosso, talvez porque sabemos da sua existência, ou porque não somos os ratos, ou por outro motivo qualquer, não conseguiremos nos unir de modo a provocar as mudanças realmente necessárias à nossa cidade. Enquanto isto, a ratoeira continuará de vez em quando desarmando em cima de alguém e, como já dizia a história, isto prejudica não só aos ratos.

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