domingo, 6 de janeiro de 2008

Pelas ruas que andei

Noite adentro, desta feita folheando o “Caminhos de Passos”, obra organizada pelo ex-deputado Márcio Maia e uma grande equipe, me recordo de uma história onde este livro esteve presente a me auxiliar. Assim, me ponho a escrever a fim de que esta não se perca no tempo e nem na minha memória. Diante disso, será necessário mudar um pouco meu estilo de escrever, pois assim, esse artigo vai parecer um conto, porém, com algumas especificidades, pois não se trata de uma ficção, contudo, atende a lugar e tempo determinado, assim, com essa abordagem, sobretudo seu teor vivencial, mas parecerá um “causo” mesmo.
Nestas idas e vindas por Minas Gerais, o mais romântico dos estados da união, certa feita estava eu em Sabará para participar do fórum mineiro de transporte e trânsito, mas como de costume, definira minha ida somente na véspera, deste modo, fui sem reservar hotel. Apesar de tratar de uma cidade histórica, Sabará não conta com tantos lugares assim para se hospedar, e lá fui eu bater de porta em porta em alguns hotéis, encontrando todos lotados. Por indicação do último que passei, fui mandado a um lugar com o “sui generes” nome de “Solar dos Sepúlveda”. Fui recebido pela proprietária, Dona Sônia, uma simpática senhora de jeito mineiro e tempero baiano, mistura ideal para quem “toca” uma pousada.
Ao preencher minha ficha, Dona Sônia logo se atentou para a cidade de onde eu vinha, indagando-me se em Passos existiam “Sepúlvedas”, referindo-se logicamente a pessoas com o mesmo sobrenome dela, o qual se empresta ao solar. Inicialmente afirmei que desconhecia, contudo, quis saber o porquê da pergunta. Desta forma, passou-me a contar de forma emocionada a história de seu avô. Expôs que este, já bem velhinho, sempre lembrava e falava de um irmão, que assim como ele, também era médico, ambos formados em Salvador. Juntos, foram para Sabará, porém, o mais novo resolvera vir clinicar na nossa região. Ainda sobre o caso, disse que o avô nunca mais teve notícias do caçula e morrera com esse sentimento. Diante da menção de que se tratava de um médico, me lembrei da Rua Dr. Sepúlveda, que fica ao lado da Santa Casa, assim, prontifiquei-me em apurar o caso e lhe enviar notícias sobre a passagem por aqui do médico baiano.
De retorno a Passos fui verificar quem teria sido o tal Dr. Sepúlveda e cumprir o prometido a Dona Sônia. O relato a seguir é extraído do “Caminhos de Passos” e pode ser visto na íntegra no livro (encontrado na biblioteca municipal) e também pela internet (www.dicionariodasruas.com.br/passos): “Por volta de 1885, chegava a Passos o médico baiano Alfredo Magno Sepúlveda. Tido como modesto, abnegado, desprendido e muito devotado foi uma figura querida por todos e admirada como o "pai da pobreza". Diplomado pela Faculdade de Medicina da Bahia, veio clinicar em Sabará, MG, onde passou alguns anos... conquistou a todos e um relatório da Santa Casa de Misericórdia diz da grandeza de sua alma, já que sua atuação era feita sem interesse financeiro... Morava num prolongamento do hospital e ali recebia enfermos que tratava com carinho dando-lhes alimento, remédio e até roupa de seu próprio uso... Seu maior exemplo ficou como homem bom, com total desapego ao dinheiro, mas comprometido com a medicina e seu dever de minorar os sofrimentos do próximo”.
Numa época comandada por coronéis, tenho comigo que o Dr. Sepúlveda foi um alento na vida de muitos, um exemplo a ser seguido. Nesta terra já nasceu, viveu e ainda vive grandes homens, líderes que tem Deus no comando de suas vidas, então, não podemos deixar que queiram acabar com nossa história, gerando um clima de pessimismo e descrédito, pregando o quanto pior melhor, visando sempre as próximas eleições, pois elas sempre existirão. Nós, passenses (todos que amam essa terra), natos ou de adoção, sabemos que nossa cidade é especial e que devemos ter orgulho dela e de sua gente. Temos consciência de que há muito a fazer e que isto é tarefa de todos, mas se cada um for um pouquinho “Dr. Sepúlveda”, com certeza Passos será melhor ainda pra se viver, pois nossa terra é exuberante, o que pode ser facilmente comprovado quando pedimos a opinião de quem nos visita ou quando viajamos, sobretudo pelo interior do Brasil.
Permita-me recomendar, além da já citada neste, algumas dentre várias obras que valorizam nosso povo e nossa terra: Memoriando, de Sebastião Wenceslau Borges; História de Passos (Vol. I e Vol. II), de Washington Noronha e Prof. Antonio Grilo, igualmente desse, Câmara de Passos – 150 anos; Álbum de Passos, coordenado também por Márcio Maia. Aproveito ainda para sugerir ao “Correio dos Lagos” a criação de uma seção de resgate da memória e do respeito por nossa cidade, pois quem luta contra isso já existe e tem até uma seção exclusiva para este fim.

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